A Dona dos Ovos da Penélope Martins
Às vezes acontece de eu desejar e, magicamente, a coisa se realizar...
Às vezes acontece de eu desejar e, magicamente, a coisa se realizar. Foi assim com A Dona dos Ovos da Penélope Martins.
Em um período muito duro (da minha vida de pessoa exilada, um dia falarei mais sobre isso), a Penélope Martins que dedica a sua escrita principalmente a crianças e adolescentes, me convidou para ilustrar um livro.
Eu sempre gostei de observar galinhas, até por que elas são animais da minha infância. Galinhas eram muito presentes no meu mundo real de menina, mas também no meu mundo imaginário. Quando eu voltei a desenhar seriamente em 2019, as galinhas eram imagens imperativas, ou seja, eu tinha que as desenhar. Talvez porque desenhar tenha algo de retorno à infância e porque eu cresci vendo as galinhas existirem e deixarem de existir. A infância é o lugar onde estou habitando, na verdade, eu nunca saí dela.
Dei o título de “Livro sem Nome” a esse caderno de desenhos em que Marguerite encontra com a morte. É uma história muito nebulosa, mesmo para mim. Eu prefiro histórias na neblina, e sei que não é um gosto muito habitual. Histórias nebulosas, histórias na neblina, histórias sem sol, histórias em chiaroscuro, quero dizer, gosto das zonas inquietantes, cinzentas onde a maioria de nós cresce e sobrevive.
Quero dizer, como dizia Goethe, o pensamento é cinza. Por isso, mesmo tendo sido uma criança e uma jovem que desenhava, eu me atraí bem cedo pela filosofia e dediquei a maior parte da minha vida a ela.
As imagens continuaram nascendo. Hoje, eu também me pergunto o que elas podem me dizer.
Quando Penélope falou comigo, eu estava na produção dessas imagens em que galinhas aparecem misturadas a crianças e velhas.
Penélope tinha uma história bem politica e bem organizada. A história de uma galinha vital, poedeira, campeã. Era uma galinha poderosa, animada, trabalhadora. Era uma galinha na luz, nas cores, na vida e na luta.
A história é boa para a Páscoa, pois tem um coelho com ovos... e fala da luta da galinha para que respeitem o seu trabalho.
Um jeito divertido de trazer consciência sobre direito e amor próprio.
Deixo com vocês as ilustrações cruas antes de serem trabalhadas pelo designer da editora Panda Books que fez o livro.
Amiga, teus desenhos e tuas palavras me tocam, hoje, especialmente. Também vivi a infância observando e interagindo com as galinhas de minha avó - ela tinha um galinheiro de dois andares, e o segundo (nunca ocupado pelas aves) era um de meus lugares preferidos pra "brincar de cozinha".
Que mais desejos se realizem pra ti, com magia e todo o cinza que te agradar.
Grande abraço.