Devir Espantalho – retornando à coluna da Revista Cult
Design da Subjetividade na era da sensibilidade artificial
Voltar ao Brasil e, ao mesmo tempo, voltar a escrever na Revista Cult me traz muita alegria. A edição desse mês traz um dossiê sobre inteligência artificial. Eu não sabia que a revista trataria desse tema, e - por coincidência, ou sincronicidade - acabei escrevendo sobre o que chamei de sensibilidade artificial.
Deixo com vocês um trecho do meu artigo sobre o Devir Espantalho que está na edição 297 da revista cujo site é https://revistacult.uol.com.br/home/.
Devir Espantalho
Design da Subjetividade na era da sensibilidade artificial
Produzindo um espantalho
Fazer o outro dizer o que ele não disse, criar um personagem em cima de uma pessoa real e agir como se esse ente imaginário estivesse presente, é disso que se trata na falácia do espantalho, uma das mais famosas na arte de vencer debates sem precisar ter razão.
Baseada na criação de um duplo, é esse personagem ficcional que deve ser atacado no lugar da pessoa real. É essa pessoa, cujo corpo e cuja presença são como que jogados fora, que é transformada em um boneco num jogo de argumentos. O ônus por ter sido transformada em espantalho é totalmente dela. O arguidor torna-se um embusteiro no momento em que refuta a posição do duplo, ou seja, atacando uma posição que não é defendida pela pessoa real. A falácia não é simplesmente o argumento, mas toda a situação do argumento como vemos acontecer com as Fake News pela qual entramos no devir espantalho na era da desinformação planificada.
Falácias tendem a criar uma espécie de ilusionismo lógico. O truque da falácia do “homem de palha” como é também conhecida, está em se bater num suposto argumento fraco deixando de lado a complexidade do argumento realmente dito que, em geral, não seria fácil de refutar.
Assim como se coloca palha dentro de uma roupa para simular a presença de um ser humano, a falácia do espantalho surge quando palavras são colocadas na boca de alguém. Esse alguém continua ali, mas uma presença espectral vem à tona. Num mundo sem ética, em que a subjetividade não é respeitada nem em seus dizeres, a espantalhificação é o destino.
Fabricando a subjetividade das massas
Subjetividades sempre foram fabricadas, ou seja, elas sempre obedeceram aos desígnios do poder e sua capacidade de projetar. Desígnio e desenho têm a mesma raiz e ambos confluem na palavra “design”. Expressões tais como “processos de subjetivação” e “processos de des-subjetivação” sinalizam para designs da subjetividade na contramão do que a noção de sujeito pretendia promover. Herege, insubmisso, desobediente, o sujeito sempre perturbou a ordem, estragando seu projeto desenhado à régua. A “regula” beneditina era um símbolo de disciplina e o sujeito era, muito antes do que os europeus chamaram de modernidade, o antagonista, o diabo encarnado que contrariava todos os projetos.
(o restante do artigo pode ser lido na revista impressa que está à venda nas bancas e livrarias).